terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Um ciclo que termina...

E pronto, chegámos ao fim do ano. Amanhã é o dia das despedidas e das boas-vindas, dos fechos e das aberturas, do fim e do principio. Fazem-se balanços, listam-se desejos, e esperamos que a esperança renasça nos primeiros segundos do novo ano, ao mesmo tempo que tudo de menos positivo ficou nos últimos segundos do velho. É extraordinária a capacidade da raça humana em se renovar de um segundo para o outro. Renovar vontades, ideias, crenças, desejos e esperanças. Assim. Com um simples estalar de dedos.
Era bom que fosse assim tão fácil, não era? Mas não é. Todos sabemos que os problemas, as dificuldades, os desafios, não desaparecem com o ano velho. Todos sabemos que o ano novo vem na continuidade do anterior, na mesma linha, na mesma lógica. O que não implica que não hajam rupturas. É um pouco como a famosa dicotomia dos grandes momentos históricos: ruptura? ou continuidade? Sempre tive alguma dificuldade em identificar só um ou só outro no percurso histórico. Para mim, qualquer mudança, histórica incluida, tem um quê de ruptura e um quê de continuidade. E é o que penso, também, em relação ao novo ano. Gosto, nesta altura, de fazer um balanço do que foi o ano a vários níveis. De verificar se tirei todas as ilações que tinha que tirar, se aprendi todas as lições que tinha que aprender. Se me entreguei como cada coisa e cada pessoa mereceu. Se dei de mais ou de menos. Se fiz o que me propus no início do ano que está no fim. É complicado sabê-lo, mas pelo menos tento. Esta é a parte da continuidade. Depois vem a da ruptura. O que quero dizer e não disse. O que quero viver e não vivi. O que quero fazer e não fiz. E transformo isso tudo numa lista de doze desejos em que os três principais acabam por ser os únicos que digo com alguma lógica na loucura das doze badaladas. Mas também são os mais importantes. E são quase sempre os mesmos. Já vos digo quais.
Tive um ano intenso. Estudei, trabalhei, viajei, amei, chorei, ri, tive surpresas agradáveis com algumas pessoas, descobri novos tesouros para juntar à minha riqueza. Não desfrutei da Primavera como gostaria. Nem do Verão. Não vi todos os passarinhos verdes que existiam para ver nem vivi todos os amores de Verão que poderia ter vivido. Mas acho que o problema está na minha lista dos doze desejos. Acabo sempre por deixar a minha vida sentimental para segundo plano. Será que a "cigana" tinha razão quando disse que a minha vida profissional iria ser sempre o centro da minha existência? Acho que vou rever a minha lista dos doze desejos...
Costumo começar por pedir que a minha família (manos e pais) continue unida como até agora. Somos abençoados, acredito que já vos tinha dito isto. Depois, peço que a faculdade corra bem (lá está, a vida profissional a falar mais alto...). Em terceiro, peço que não me falte trabalho (tenho mesmo que mudar isto...). Depois penso nos manos, nos pais e deixo os 3 últimos do fim para mim. Não os vou partilhar convosco, para salvaguardar o pouco de intimidade que ainda guardo para mim. Mas, agora que escrevo isto, percebo que tenho que reorganizar a lista. Vou pensar nisso até amanhã. Enquanto isso, desejo-vos um 2009 quase perfeito. Porque a perfeição não existe. Porque seria o fim. Porque o depois seria monótono. E o quase tem sempre algo de desafiante que nos empurra para a frente.
Portanto, toca a escolher um traje elegante, roupa interior azul ou vermelha, a meter uma nota de 50 euros (ou mais, quanto mais alto melhor) no bolso e, ao chegar as doze badaladas, tenham os desejos na ponta da língua, a nota numa mão, as passas na outra, e subam para cima duma cadeira. Façam tudo o que as tradições dizem. Mal não pode fazer. E se o ano for difícil como dizem, o melhor é não facilitar. Mas não esqueçam do mais importante: ao passar a meia noite, tenham junto de vocês as pessoas com quem querem estar sempre durante o ano que começa. Eu faço isso. Dentro do possível, claro. E resulta.
Feliz 2009

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Feliz Natal

Parei. E pus-me a olhar a cidade ao final do dia. Trânsito caótico, pessoas em correria, anoitecer. E luzes. Ruas enfeitadas de folclore de cores e formas. Umas mais bonitas, outras menos. Montras enfeitadas de tentações e vontades. Umas mais elegantes, outras menos. E o trânsito escorria pelas artérias da cidade, essas artérias brilhantes e mais, ou menos, bonitas. E as pessoas espalhavam-se pelos espaços, pelas ruas, pelas lojas, essas mais, ou menos, elegantes. Enquanto uns desapareciam nas esquinas, recantos e curvas, desejosos de fugir do reboliço e chegar a casa, outros entravam e saiam num frenesim de sacos, e pressas, e prendas e impaciências. Agora estarão todos a abanar com a cabeça e a pensar "foi nisso que se tornou o Natal". Terá sido mesmo? Pois eu consigo olhar e ver, ainda, alguns que passeiam descontraidamente a aproveitar a luz do final do dia, aquela magia do anoitecer que apela à tranquilidade. Consigo ver aqueles que, com as mãos nos bolsos, param e olham as montras, as ruas, as luzes, não com a loucura das listas numa mão e os sacos na outra, mas com o deleite de apreciar a beleza que existe neste cenário. Porque é possível ver beleza nas luzes brilhantes, nas ruas enfeitadas, no reboliço da cidade. É possível olhar este cenário e sorrir com a benevolência própria da época. É possível contrariar a correria e a falta de sentido.
Mas não se enganem, meus amigos. Aqui me confesso: eu também sou uma consumista nata! E daquelas em estado grave!!!! Mas procuro comprar cada presente para cada pessoa. E imaginar a cara da pessoa ao abrir o presente. E fazê-la sentir q o comprei mesmo para ela. Dar, para mim, é dos maiores prazeres que tenho nesta altura. Gosto de dar bom gosto, beleza, praticidade. Gosto de dar, simplesmente. Palavras ou coisas. Sim, porque ainda escrevo manualmente alguns postais para aqueles que são especiais e merecem ler a minha letra esquisita, escrita num postal tradicional, em vez do formato standard de qualquer lettring de um telemóvel ou computador. Gosto, sobretudo, de mostrar às pessoas que são importantes e que penso nelas. Não que não o faça durante o resto do ano. Mas se esta época é propícia para a dádiva, para a partilha, para o amor nas suas diversas faces, porque não fazê-lo de uma forma especial? Afinal, aquela noite, há muito tempo atrás, marcou a história do Homem. Dá lições de vida a quem acredita e a quem não acredita. E transformou, radicalmente, a forma de olharmos os outros.
Então, vamos lá aceitar o desafio de correr aquelas ruas apinhadas de gente, de entrar e sair das lojas, de construir um equilíbrio precário entre os sacos e a mala que carregamos quase como mulas de carga. Mas embora lá fazer isso com o espírito certo. É que faz toda a diferença. A diferença do brilho nos olhos. E o sorriso.
Feliz Natal

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

És o meu amor eterno

A saudade é daqueles sentimentos agridoces que nos traz os momentos em que fomos felizes, ou as pessoas com quem fomos felizes, numa combinação de alegria e tristeza. Alegria porque revivemos o que sentimos e percebemos que tivemos o privilégio de viver grandes momentos. Tristeza porque, por qualquer motivo, alheio à nossa vontade, não se podem repetir, pelo menos no presente.
Hoje estou agridoce. Estou alegre e estou triste. Encontro-me encerrada entre a lágrima que sente a tua falta e o sorriso que te traz até mim de tão longe. Sempre tivemos uma relação especial. Não fomos grandes companheiros mas fomos grandes amigos. Não fomos grandes confidentes mas fomos grandes suportes um do outro. Nunca precisaste saber o que eu andava a fazer e com quem andava a fazer, nunca precisaste saber o que se passava comigo. Tal como eu em relação a ti. Porque sabias que, se eu precisasse, ia ter contigo. Porque eu sabia que estarias sempre lá, sem o teres de repetir todos os dias, sem teres que estar sempre presente. Acredito que seja complexo conceber este amor. Este amor que, a nós, só nos dá liberdade. Não prende, não exige, não cobra. Quando quero o teu colo, tenho-o. Quando queres o meu mimo, está sempre aqui para ti. Sem momentos de angústia em que nos assaltam as perguntas mais inseguras do tipo "Será que devia ligar?", "Será que devia dizer?", "Será que devia perguntar?", "O que andará a fazer?". Confiança plena e total no sentimento que sempre nos uniu. É isso que sentimos. E, por isso, tu podes ir para a outra parte do globo e eu posso embrenhar-me em mil e uma aventuras. Porque mesmo longe, sabemos que, se o outro precisar, saberá encontrar-nos.
Mas esta liberdade não consegue colmatar os momentos em que te preciso. Não me entendas mal. Adoro esta nossa forma de estar, esta nossa forma de amar, esta nossa relação muito mais forte que qualquer noção de espaço e de tempo. Mas gosto deste tesouro que temos, exatamente porque, até a saudade é livre. Podemos senti-la quando quisermos sem nos preocuparmos com questões como a possessividade, a dependência, a exigência. A nossa saudade tem pouco disso. Mas tem muito de amor, de segurança, de partilha.
Hoje tenho-te saudades. E procuro-te. E encontro-te. E tu dás-me o mimo que só tu podes dar, dizes-me a palavra que só tu podes dizer, dás-me esse colo que só tu tens. Porque é das coisas que mais gosto de fazer quando estamos juntos: sentar-me no teu colo, abraçar-te e receber os teus beijos, os teus mimos. Voltar a ser pequenina. É como que uma viagem no tempo... E os momentos que fizeram o passado, voltam a escrever o presente.
Hoje não me podes dar colo mas anseio por te ouvir ao telefone. Sei que me vais perguntar se tive saudades e se quero miminhos. E eu vou rir e vou dizer que quero muitos e que te amo muito. E tu vais-me dizer que também me amas, com aquela estranha forma de falar que os adultos usam para falar com as crianças. E volto a ser a tua menina. Sim, é verdade. Eu serei eternamente a tua menina. E tu... Tu és o meu único amor eterno.
Amo-te...
...pai.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Lembrei-me de ti

Há dias em que o passado nos visita sem avisar. De repente, irrompe-nos pelo pensamento adentro e ocupa-nos a cabeça com situações, imagens, palavras e gestos que já tinhamos guardado na gaveta. Tu vieste num desses rompantes.
Lembrei-me de ti, de mim, de nós, naquele curto espaço de tempo em que estivemos juntos. Lembrei-me da paciência que tinhas para as minhas dúvidas. Lembrei-me da compreensão que demonstravas para todas as minhas crises. Lembrei-me do carinho com que sempre me mimavas. Mas, acima de tudo, lembrei-me do amor louco que fizemos. Foste o meu primeiro amante com pleno direito de merecer tal nome, mesmo tendo sido muito amada no passado. Porque me amaste e amaste o meu corpo como nunca deixei que ninguém o fizesse antes. Porque contigo não faziam sentido os preconceitos, os pudores, as barreiras. Porque contigo voei nos braços do prazer inesgotável tantas vezes que lhes perdi a conta.
Não te amei. E, ao não te amar, estabeleci, logo à partida, o fim da nossa relação. Ela só fez sentido num plano muito físico, muito carnal. E se fazia sentido!!! Mas uma relação a dois não sobrevive só com base no físico, mesmo que esse físico fosse belo. E o teu físico era lindo! Foste, talvez, o homem mais bonito que já tive, corporalmente falando. Mas faltava-nos o sentimento, aquele que faria girar o mundo, mesmo que ele fosse estático. Perdão. Faltava-me a mim. Perdão, mais uma vez. Não me faltava. Tinha-o até demais. Só que não era teu. E, por isso, foi intenso mas acabou rápido. E até na hora do adeus foste surpreendente. Deixaste-me ir, sabendo que não te pertencia, portanto fitas não faziam sentido. Foste homem de uma nobreza notável quando não se espera muito de maturidade em alguém da tua idade. E isso fez com que te recorde sempre com um carinho muito grande e um sorriso nos lábios.
Mas porque é que te recordei agora? Não, não foi porque preciso de ser tocada da forma que me tocaste. Se bem que precise. Não foi porque quero ser tratada da forma que me trataste. Se bem que queira. Tão pouco foi por me sentir culpada pelo desfecho da nossa história. E não sinto mesmo. Separámo-nos sem dores, sem mágoas. Recordei-te agora porque, no meio dos meus momentos de carência, de solidão, de dúvida sobre se alguém, alguma vez, me terá querido de uma forma despretensiosa e bonita, me terá querido só por mim e por aquilo que eu sou, apareceste tu. E percebi que não posso ser injusta com o universo. Não posso sentir-me incompreendida e sem sorte nos afectos. Porque já te tive.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Um dia, escreverei...

Um dia, escreverei sobre mim para contar o que me fizeste sentir, o que me deste, como era eu contigo. No dia seguinte, escreverei sobre ti, sobre a força que tinhas, sobre o que eras e o que significaste para mim. No terceiro dia, escreverei sobre nós e falarei sobre os nossos sorrisos e lágrimas, as nossas partilhas e segredos, a nossa cumplicidade. Depois... Depois calarei tudo isso no mais fundo de mim, fecharei a gaveta do armário, trancarei a porta do arquivo, e arrumar-te-ei lá, no passado. Será o fim de um capítulo. O fim de uma história.
O que partilhámos foi mágico. Uma empatia que só alguns, privilegiados, conseguem vivenciar. Tu leste-me e eu li-te e lemo-nos os dois como quem percebe de criptologia e de segredos ocultos por trás das palavras mais banais, dos gestos mais banais, dos silêncios aparentemente iguais. Vivemos o que tivemos que viver. Sentimos o que tivemos que sentir. Foi único mas finito. Agora não sinto nada. Estou vazia porque te dei demais. Não te culpo. Recebi tanto quanto dei. Mas a nossa relação não era deste mundo. Por isso te deixei ir. Faz o teu caminho que eu farei o meu sabendo que estarás comigo como eu estarei contigo. E com outros seremos felizes. E com outros construiremos vida. Até chegar, finalmente, a nossa vez. Amanhã ou depois. Nesta vida ou numa outra. Não interessa. Somos um do outro muito para além da dualidade corpo/alma. Somos um do outro como entidades que sempre existiram e que sempre existirão ligadas. E essa certeza preencher-nos-á em todos os caminhos que percorreremos.
Um dia, escreverei. Escreverei a par daquilo que a memória me trouxer e o coração sentir. Escreverei com o sorriso nos lábios e as lágrimas retidas nos olhos que só as boas recordações conseguem produzir. Mas hoje não consigo. Hoje olho e não te vejo. Nem como foste, nem como ainda hás-de ser. E não me vejo a mim. E não nos vejo a nós. E não posso escrever sobre o que não vejo.
Mas um dia... Um dia, escreverei...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Voltei

Voltei.

Não estive ausente por motivos de força maior. Ninguém me morreu, não tive mais trabalho do que o costume, nem fiquei sem internet. Estive doente, é um facto, mas nada que me impedisse a escrita. Foi uma daquelas constipações fulminantes, das muitas que andam por aí.
Estive ausente porque as palavras cansaram-me. Tenho alturas assim. Escrever exige tanto de nós que nos suga a energia. Pelo menos, a minha escrita é assim. Porque vivo cada palavra que escrevo, mesmo que já a tenha vivido antes. Há outras que não vivi mas que as sinto como se tivesse vivido. Porque, para mim, a escrita é um auto-retrato misturado com anseios, desejos, esperanças e medos, nossos e dos outros com quem partilhamos a vida. Acaba sempre por ser uma construção literária.
O que quero dizer com isto é que nem sempre estou tão triste como os meus textos. Nem tão alegre. Se bem que a alegria não me dá para a escrita. Parece que é mais fácil e mais catártico escrever sobre tristeza, sobre desilusão, sobre mágoa. A escrita, para mim, é, sobretudo, catártica. Não, não gosto de chover no molhado, não me faço de vítima, tão pouco sou dada a práticas masoquistas. Só preciso escrever sobre o que me toca, me emociona, me abana, para poder reler e analisar. Deixando os sentimentos com as palavras, quando as volto a ler, consigo colocar-me do lado de fora e tentar encontrar soluções. Pronto, reconheço que nem sempre sou capaz. Não sou infalível. Muito menos ultra-racional, apesar da racionalidade ser dos meus traços mais marcantes. Mas quem me conhece bem sabe que, essa racionalidade, uso-a para contra-balançar o meu lado apaixonado, de emoções fortes. Tenho essa luta eterna de razão vs coração dentro de mim que me faz buscar sempre o equilíbrio. E a escrita é uma forma de o encontrar.
Mas cansa-me. Esvazia-me. Os sentimentos fazem-nos isso. Daí precisar de pausas. Foi o que fiz. E que voltarei a fazer sempre que a minha razão disser ao meu coração para lhe dar uns momentos de descanso. Depois volto. Porque um não vive sem o outro.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ossos

“Nasce o dia. Agora o mar flutua sobre a terra, pois adquiri, de larva para borboleta, de borboleta para crisálida, de crisálida para homem, o poder de colocar o mar onde ele não existe. E o mar, no oceano, não existe nunca.

Olho para ti e vejo o mar que me faltava. E se os meus olhos se alagam, já não é medo nem sequer receio, é apenas por amar o mar. Em ti nado, em ti penetro sem te tocar, de ti saio escorrendo ternura como se fosse esse o esperma da alma. E nada me consegue secar o coração, porque nele plantámos o poder de molhar até ao infinito.

Mas não. Tu falas de andar a regar a planta, e isso só é fértil com água de dois. E eu sequei por falta de ti. Secaram-me as asas, caíram-me alguns membros, o terceiro ventrículo murchou. Estou humano, carente, triste, só.

Vejo asas onde eu quero, mas pouco quero voar. Vejo gente que dorme, mas pouco sono me dá.

A ti, dou-te tudo. Depois fico exausto, porque tudo é muito.

Mas por mais que tente dosear o amor, menos que tudo a nada me sabe, mulher. É uma questão de tempero.

Então, aqui me entrego. Estou quase morto, quase vivo.
Que quem quiser, escolha.”

Manuel Cintra, Abril de 2006

Porque o amor vivido no masculino sempre me fascinou...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Esquecida

Aqui estou, esquecida. Trocada por novos prazeres, novas piadas, novo sangue e sangue novo. Nova cama. Novo corpo e corpo novo. Não páro de me perguntar onde errei. O que foi que fiz? Dei de mais ou de menos? Mostrei quase tudo ou quase nada? Tenho a sensação frustrante de que não me conheceste e o sabor amargo na boca de que talvez não me tenha deixado ler. Sabes que, de tanta pancada que levamos, endurecemos a carapaça e aumentamos o grau de filtragem. Vedamos os buracos e barricamo-nos de todos os repetidos males e dores que já experienciámos e não queremos voltar a sentir. Só deixamos entrar quem queremos. Ou quem nos assalta e apanha desprevenidos.
Tu foste daqueles que decidi deixar entrar. Foste dos escolhidos racionalmente, calculisticamente, matematicamente. Brincámos ao gato e ao rato. Jogámos o inevitável jogo das palavras. E acabei por te ofuscar. Iluminei demais o meu lado cool, despreocupado, racional, masculino. Remeti para as sombras o frágil, o carente, o emotivo, o feminino. A mesma metade de mim que te conquistou com trocadilhos e quebra-cabeças, perdeu-te nos labirintos do desejo, do afecto, do amor. Nãõ conseguiste chegar ao lado de lá. E eu não consegui fazer-to chegar. Quando empurrei a porta emperrada, já tinhas voltado para trás. Foste rápido a desistir. Muito rápido. Demasiado. E, agora, consolo-me com o pensamento de que não terias merecido a minha abertura. Não terias merecido o meu outro lado. Se nem sequer te dispuseste a subir a montanha... Mas sabes que mais? O teu luto, que também deveria ter sido racional, não foi. Tu não entraste mas eu saí. Fiquei aqui. De pé. Sozinha. Perdemos os dois.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Idas e Voltas

Trago-te aqui, bem perto.
Sempre protegido, sempre encoberto.
Guardado do que dói, do que fere, do que machuca.
E, no entanto, não pára a tua busca.
E espreitas, e sais, e foges de mim sem qualquer rasgo de remorso.
E vais.
E dás-te.
E, quando me apercebo, já voltaste.
Ferido, encolhido, escondes-te outra vez em mim.
E pedes-me que finja que não te vi.
Pedes-me que te proteja, que te feche, que te arrume aqui num canto para ninguém te ver.
Pedes-me para te esquecer.
Porque és orgulhoso e não queres que vejam as tuas feridas.
Porque a tua defesa é ignorar as dores escondidas.
Sofres, mas não queres que vejam.
Sangras, mas engoles o sangue do teu sangue, esse sangue que te dá cor, e vida, e alento.
Quando tudo o que querias era mais do mesmo, mais de ti. Num outro corpo, num outro recanto.
Ai, Amor, Amor, não sei se receie mais a hora em que não voltes ou a que voltarás para sempre...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Hoje...

Hoje, apetece-me fazer silêncio... Daquele silêncio bom, gostoso, de paz... Daquele silêncio de esperança, de tranquilidade... Graças a Deus, tenho dias assim...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Nos 30...

Não me lembro do dia em que nasci.

Não sei como estava o tempo, qual era o alinhamento dos astros, que bons ou mais augúreos me vaticinavam os deuses. Pouco vos posso falar sobre os meus primeiros anos, porque não me lembro deles. O pouco que aflora à minha memória, olhando para fotografias antigas, mostra-me uma criança normal e doce, um tanto ou quanto irrequieta. E uma mãe cuidadosa e meiga.

Começo a lembrar-me melhor quando tinha quase quatro anos e me entra, casa a dentro, a minha mãe com um bebé nos braços. Que chatice! Ter que ajudar a tratar do puto, dividir coisas, espaços. Não foi uma adaptação fácil. Não dei pulos de alegria. A minha mãe, trabalhadora e dona de casa, contava comigo para a ajudar. A vida, ia-a tornando mais fria e foi assim que me ensinou a viver. Com coragem. Sem medo. Pronta para tudo.

Na escola, sempre fui das melhores da turma, muitas vezes a melhor, digo-o sem falsa modéstia, e portava-me sempre bem. Nunca chumbei um ano, nunca tive uma negativa no final do período. As professoras gostavam muito de mim. Mas nos intervalos, era malandreca. Talvez até um bocadinho maria rapaz. Sempre tive mais facilidade em fazer amigos do que amigas. Nós, as mulheres, eramos demasiado complicadas para mim. Ainda somos, às vezes.
E assim cresci. Com dez anos, o puto que lá apareceu em casa já tinha seis, já ia para a escola, e eu já estava um bocadinho mais livre das obrigações em casa. Nova escola, novos amigos, novas malandrices. Muito joguei ao berlinde, muitas vezes lancei o pião (e não era nada má, deixem-me que vos diga), algumas vezes saltei ao elástico. Ainda um bocadinho maria rapaz. Novo irmão. Não! Vai começar tudo de novo! Mais um para cuidar, para partilhar espaços, coisas, atenções. Que chatice!!!

Os anos passaram, os bons amigos ficaram, decisões foram tomadas. Chegada ao 12º ano, não fui para a faculdade. Fui trabalhar. Durante dois anos convivi com gente com necessidades diferentes, com vidas diferentes, com realidades diferentes. Cresci. Aprendi. Ao fim de dois anos, decidi que sentia falta do estudo. À revelia dos meus pais, candidatei-me à faculdade. Entrei. Um novo mundo. Novas vivências, novos amigos. Lisboa, a minha outra cidade. Foram dos melhores anos da minha vida. Mas, se soubesse o que sei hoje, tinha feito muito mais. Rido mais, brincado mais, estudado menos. Queria despachar aquilo rápido, queria trabalhar. E quando as circunstâncias da vida obrigaram o meu pai a tentar a sorte lá fora, em Angola, tornei-me ainda mais chata. Eu diria quase impossível de aturar. Sei que os meus colegas da faculdade passaram um mau bocado comigo. Mas foi como levarem-me um pedaço de mim. O meu pai, para mim, era tudo. Ainda é. A minha mãe precisou de mim mais do que nunca. Poderei dizer que, muitas vezes, fui o homem da casa. Custei a adaptar-me. Mas o meu pai voltou. A coisa não correu muito bem lá por Angola, é verdade, mas ele voltou. Para assumir a sua família e me pôr o sorriso nos olhos outra vez.

Namorei, claro que sim. Faz parte, não é? Fui amada e amei, não necessariamente quem me amava. Tive ilusões e desilusões. Tive a tal relação séria. Ele era dedicado, paciente, amoroso. Mas não era o tal. Acabou. Numa altura em que toda a minha vida estava prestes a mudar. O meu pai decide sair novamente de Portugal e a minha mãe vai com ele. Desta vez iam tentar o Canadá. Estava no último ano da faculdade. Novo choque. Novas responsabilidades. Novo processo de adaptação a uma nova realidade. Se o meu irmão mais velho já tinha 18 anos, o mais novo tinha 12. A casa, eles, um mais que outro, seriam, agora, minha responsabilidade. Ninguém me pediu. Mas senti que era minha obrigação. Não poderia fazer de outra forma. Eram os meus pais, os meus irmãos, a minha família. Predispus-me para conhecer o tal puto de 12 anos que morava lá em casa. Passei a ser a sua encarregada de educação, a perceber o seu mundinho, as suas necessidades, as suas fragilidades. Queria que ele, tal como o outro, sentissem o menos possível a ausência dos meus pais. Acho que consegui. À custa de muita coisa, eu sei. À custa da saúde, à custa do amor, à custa de uma carreira profissional, que poderia ter arrancado. Ou não. Não sei. Também não interessa. Acredito que tudo o que aconteceu tinha que acontecer. Para me trazer até aqui.

Depois de dois anos de luta contra uma doença que me tirou a alegria de viver, renasci. Sim, esse é, literalmente, o termo. A Sílvia alegre e apaixonada pela vida voltou. Mais descontraída, mais viva. Estive sempre disponível para os meus irmãos que, neste momento da minha vida, foram tudo. Bem como muitos dos amigos que trago no coração hoje. Passei muitas fases na longa recuperação, mas passava por tudo de novo se soubesse que ia estar aqui, hoje, rodeada de quem mais gosto, e de quem me faz feliz. Sou uma pessoa abençoada por Deus, se me permitem a referência. Tenho dois pais que me amam e que se amam, dois irmãos que fariam tudo por mim como eu faço por eles. Uma família como poucas, diria eu, apesar das distâncias. Contra ventos e marés, o nosso amor vence tudo. Em cada momento mais assumido e mais presente. E tenho os melhores amigos.

Hoje, sou uma pessoa realizada. Trabalho em publicidade, uma área de que gosto,apesar de não estar a desempenhar funções para as quais estudei. Estudo, coisa que, como muitos sabem, adoro fazer. Mais. Estudo História, uma paixão. Até onde me vai levar, não sei. Ao contrário da primeira viagem, esta marinheira não se preocupa muito com o próximo porto de paragem. A viagem apresenta infinitas possibilidades para me preocupar com a hora de chegada. Gostava de vir a dar aulas. Pela importância que a educação tem na formação das crianças. Pela possibilidade de fazer crianças felizes. Mas de momento, vibro com cada coisa que aprendo. Quase me torno chata ao falar disso. Quase...

E pronto. A minha história dos últimos 30 anos, está aqui contada, em traços gerais.Sou isto que aqui leêm. Orgulhosa, fria, dura, sofrida, por vezes cruel. Mas também amiga, dedicada, sensível, romântica, meiga. Muitas vezes frágil. Nunca arrependida. Sobretudo, apaixonada. Das mais diversas formas. Pela vida. Por vocês. Por ti.Venham mais 30!!!
12/05/2008
Porque precisei de o reler para me lembrar que sou uma privilegiada...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Espelho Meu

Olho-te no espelho e não te reconheço. Quem és tu? O que queres de mim? Porque me dizes o que devo ou não fazer, como devo ou não estar? Quero ficar aqui, quieta, esquecida… Baixar os braços, encolher-me neste cantinho e deixar-me ficar afastada de qualquer exigência.

Não me peças para empurrar mais um metro… Não me digas que esperavas mais de mim… Não me obrigues a continuar de cabeça erguida e ignorar aquilo que aqui vai dentro… Nâo vês que já não consigo? Não vês que não quero conseguir? O que queria mesmo era que me dissesses que já não preciso continuar a ser forte… Queria que me sorrisses com aquele sorriso doce que tens e me dissesses que já não estou sozinha. Aí sim, tenho a certeza que o meu respirar seria mais leve e a energia voltaria a jorrar pelo meu sangue. Tudo porque o que fizesse daí para a frente seria partilhado. Tudo porque tudo passaria a fazer sentido num universo criado para o nós, não para o eu.

Mas tu não sorris. Tens esse rosto fechado, tenso, endurecido. Esse olhar implacável e determinado a levantar-me, a empurrar-me, a obrigar-me a reagir. És cruel! Não te cansas de me ignorar? Não te cansas de nunca desistir? Não te cansas de me fazer seguir por onde achas que devo ir, mesmo que não o queira fazer sozinha? Eu sei que se estou viva, é a ti que o devo. Eu sei que se sou forte, foste tu que me fizeste forte. Eu sei que metade do que tenho e do que sou, to devo a ti. E agradeço-te por isso. Mas não te esqueças que não estás sozinha aqui. Se estás aí, nesse lado do espelho, é porque eu estou aqui, deste lado.

Anda. Solta essa lágrima que teimas em prender… Tira essa máscara que teimar em usar… Só um bocadinho… E deixa-nos voltar a ser só um “eu” por um momento. Prometo que depois volto a empurrar contigo…

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Preciso de ti...

Ultimamente, acordo de manhã com uma mesma sensação: mais um dia sem te ter, mais um dia em que sou só eu. Levanto-me, arranjo-me, enfrento o que me esperam as horas do dia... mas à noite... quando volto para casa... ela está lá outra vez: a saudade. Saudade da conquista, da partilha, da cumplicidade. De trocar sorrisos contigo. De trocar olhares contigo. De querer-te e ver-me querida nos teus olhos. De desejar-te e ser desejada. Do teu corpo no meu corpo, sem sabermos onde começa um e acaba o outro. Do depois. De todo um depois que preenche a alma e me faz sentir que estou onde devo estar, como devo estar, com quem devo estar: contigo.
Estou cansada de esperar. Cansada da saudade do que havemos de ser, do que me farás sentir... Cansada de fazer de conta que estou bem. Não estou! Sim, faço o que gosto. Sim, vivo como quero. Sim, tenho a liberdade que sempre procurei. Mas preciso de mais! Preciso de tudo o que podemos ser juntos. De um futuro que o futuro promete há tanto tempo!Preciso de ti... Para deixar de ser só eu... Para passarmos a ser nós...
16/10/2008

domingo, 26 de outubro de 2008

Delírio

Um toque...
Gentil, primeiro, torna-se ousado e insinuante à medida que percorre as curvas que lhe prometem emoções fortes e vibrantes...
Um beijo...
Inseguro, primeiro, torna-se exigente e provocador à medida que a resistência se transforma em convite, explorando os segredos que guardam os lábios sedentos de atenção.
E tocas-me. E beijas-me. E eu deixo-me ir nas promessas do teu corpo como tu fazes com o meu.
Uma paixão...
Dois corpos que se exploram e se conhecem, se envolvem e se dão na suave e intensa luta do prazer. Misturam-se suores, respirações, multiplicam-se afagos, desejos... O mundo passa a ser só aquela dança sofrega e exigente.
Uma posse...
Não existe o tu, o eu, as diferenças, as semelhanças. Existe a necessidade de possuir e ser possuido, de dar e receber, de saciar um instinto quase tão animalesco como libertador.
E invades-me. E possuis-me. E eu recebo-te sedenta de domínio, de entrega, de liberdade... Não te conheço. E, no entanto, vi-te na tua forma mais real. Tudo tão natural...
Delírio meu?
23/10/2008