terça-feira, 28 de outubro de 2008

Espelho Meu

Olho-te no espelho e não te reconheço. Quem és tu? O que queres de mim? Porque me dizes o que devo ou não fazer, como devo ou não estar? Quero ficar aqui, quieta, esquecida… Baixar os braços, encolher-me neste cantinho e deixar-me ficar afastada de qualquer exigência.

Não me peças para empurrar mais um metro… Não me digas que esperavas mais de mim… Não me obrigues a continuar de cabeça erguida e ignorar aquilo que aqui vai dentro… Nâo vês que já não consigo? Não vês que não quero conseguir? O que queria mesmo era que me dissesses que já não preciso continuar a ser forte… Queria que me sorrisses com aquele sorriso doce que tens e me dissesses que já não estou sozinha. Aí sim, tenho a certeza que o meu respirar seria mais leve e a energia voltaria a jorrar pelo meu sangue. Tudo porque o que fizesse daí para a frente seria partilhado. Tudo porque tudo passaria a fazer sentido num universo criado para o nós, não para o eu.

Mas tu não sorris. Tens esse rosto fechado, tenso, endurecido. Esse olhar implacável e determinado a levantar-me, a empurrar-me, a obrigar-me a reagir. És cruel! Não te cansas de me ignorar? Não te cansas de nunca desistir? Não te cansas de me fazer seguir por onde achas que devo ir, mesmo que não o queira fazer sozinha? Eu sei que se estou viva, é a ti que o devo. Eu sei que se sou forte, foste tu que me fizeste forte. Eu sei que metade do que tenho e do que sou, to devo a ti. E agradeço-te por isso. Mas não te esqueças que não estás sozinha aqui. Se estás aí, nesse lado do espelho, é porque eu estou aqui, deste lado.

Anda. Solta essa lágrima que teimas em prender… Tira essa máscara que teimar em usar… Só um bocadinho… E deixa-nos voltar a ser só um “eu” por um momento. Prometo que depois volto a empurrar contigo…

4 comentários:

Nãosesa disse...

E é por conseguires ver quem vês, do outro lado do espelho, que consegues ter forças!
E é por a conseguires manter, do outro lado do espelho, que consegues continuar!
Mas é também por serem um "nós" baseado no "eu" que és e por certo serás sempre uma grande mulher!

Bitocha disse...

Lembro-me sempre de uma coisa que uma vez me disseste quando me sentia em baixo: "Tu és mais tu!"
Agora também se aplica.
Eu posso dizer que tenho o privilégio de conhecer o reflexo que vês no espelho mas também o teu verdadeiro eu: aquele teimoso, mas emocional o suficiente para ver quando tens de dar o braço a torcer, torcida mas um poço de ternura lá no fundo e forte como sempre foste! mesmo quando não consegues ver um caminho...
Beijo

Psantos disse...

Pois!
Ja lhe disse. Conheço poucas pessoas com essa força de vontade, essa luta e esse entrega. E gosto. Só posso prometer que enquanto aqui estiver tudo farei para lhe dar pica, a começar agora mesmo!

Cristina disse...

São como ondas de maré
Que vão deixando pequenos charcos
Resquícios de Vida
Vislumbres longínquos de fé
Pequenos mares, sem barcos,
Eternos pontos de partida.

Amigos que tenhamos connosco,
São como actos de fé,
Hoje estão aqui, amanhã não!
Pedaços de um corpo sem rosto
São como ondas de maré
Dilaceram-me a Razão!

Afogamos na expectativa fútil
O desejo que desta vez seja perfeito...
Mas o mar é revolto por defeito
É profundo, sem proa, sem ré
Barco perdido, matriz sem sé
Náufrago, submerso, vazio, inútil...

Amigos são como ondas de maré
Hoje não vivemos sem eles
Amanhã já ninguém mais recorda.
São a nossa braçada para fora de pé,
Nevasca gelada sem casaco de peles,
Cheios, vazios, a onda transborda...

(Sabes q este é recente, mas serve para te lembrar que tens amigos - por vezes a tisteza não nos deixa vê-los e afastamo-nos. Beijo Linda!)