sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Hoje...

Hoje, apetece-me fazer silêncio... Daquele silêncio bom, gostoso, de paz... Daquele silêncio de esperança, de tranquilidade... Graças a Deus, tenho dias assim...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Nos 30...

Não me lembro do dia em que nasci.

Não sei como estava o tempo, qual era o alinhamento dos astros, que bons ou mais augúreos me vaticinavam os deuses. Pouco vos posso falar sobre os meus primeiros anos, porque não me lembro deles. O pouco que aflora à minha memória, olhando para fotografias antigas, mostra-me uma criança normal e doce, um tanto ou quanto irrequieta. E uma mãe cuidadosa e meiga.

Começo a lembrar-me melhor quando tinha quase quatro anos e me entra, casa a dentro, a minha mãe com um bebé nos braços. Que chatice! Ter que ajudar a tratar do puto, dividir coisas, espaços. Não foi uma adaptação fácil. Não dei pulos de alegria. A minha mãe, trabalhadora e dona de casa, contava comigo para a ajudar. A vida, ia-a tornando mais fria e foi assim que me ensinou a viver. Com coragem. Sem medo. Pronta para tudo.

Na escola, sempre fui das melhores da turma, muitas vezes a melhor, digo-o sem falsa modéstia, e portava-me sempre bem. Nunca chumbei um ano, nunca tive uma negativa no final do período. As professoras gostavam muito de mim. Mas nos intervalos, era malandreca. Talvez até um bocadinho maria rapaz. Sempre tive mais facilidade em fazer amigos do que amigas. Nós, as mulheres, eramos demasiado complicadas para mim. Ainda somos, às vezes.
E assim cresci. Com dez anos, o puto que lá apareceu em casa já tinha seis, já ia para a escola, e eu já estava um bocadinho mais livre das obrigações em casa. Nova escola, novos amigos, novas malandrices. Muito joguei ao berlinde, muitas vezes lancei o pião (e não era nada má, deixem-me que vos diga), algumas vezes saltei ao elástico. Ainda um bocadinho maria rapaz. Novo irmão. Não! Vai começar tudo de novo! Mais um para cuidar, para partilhar espaços, coisas, atenções. Que chatice!!!

Os anos passaram, os bons amigos ficaram, decisões foram tomadas. Chegada ao 12º ano, não fui para a faculdade. Fui trabalhar. Durante dois anos convivi com gente com necessidades diferentes, com vidas diferentes, com realidades diferentes. Cresci. Aprendi. Ao fim de dois anos, decidi que sentia falta do estudo. À revelia dos meus pais, candidatei-me à faculdade. Entrei. Um novo mundo. Novas vivências, novos amigos. Lisboa, a minha outra cidade. Foram dos melhores anos da minha vida. Mas, se soubesse o que sei hoje, tinha feito muito mais. Rido mais, brincado mais, estudado menos. Queria despachar aquilo rápido, queria trabalhar. E quando as circunstâncias da vida obrigaram o meu pai a tentar a sorte lá fora, em Angola, tornei-me ainda mais chata. Eu diria quase impossível de aturar. Sei que os meus colegas da faculdade passaram um mau bocado comigo. Mas foi como levarem-me um pedaço de mim. O meu pai, para mim, era tudo. Ainda é. A minha mãe precisou de mim mais do que nunca. Poderei dizer que, muitas vezes, fui o homem da casa. Custei a adaptar-me. Mas o meu pai voltou. A coisa não correu muito bem lá por Angola, é verdade, mas ele voltou. Para assumir a sua família e me pôr o sorriso nos olhos outra vez.

Namorei, claro que sim. Faz parte, não é? Fui amada e amei, não necessariamente quem me amava. Tive ilusões e desilusões. Tive a tal relação séria. Ele era dedicado, paciente, amoroso. Mas não era o tal. Acabou. Numa altura em que toda a minha vida estava prestes a mudar. O meu pai decide sair novamente de Portugal e a minha mãe vai com ele. Desta vez iam tentar o Canadá. Estava no último ano da faculdade. Novo choque. Novas responsabilidades. Novo processo de adaptação a uma nova realidade. Se o meu irmão mais velho já tinha 18 anos, o mais novo tinha 12. A casa, eles, um mais que outro, seriam, agora, minha responsabilidade. Ninguém me pediu. Mas senti que era minha obrigação. Não poderia fazer de outra forma. Eram os meus pais, os meus irmãos, a minha família. Predispus-me para conhecer o tal puto de 12 anos que morava lá em casa. Passei a ser a sua encarregada de educação, a perceber o seu mundinho, as suas necessidades, as suas fragilidades. Queria que ele, tal como o outro, sentissem o menos possível a ausência dos meus pais. Acho que consegui. À custa de muita coisa, eu sei. À custa da saúde, à custa do amor, à custa de uma carreira profissional, que poderia ter arrancado. Ou não. Não sei. Também não interessa. Acredito que tudo o que aconteceu tinha que acontecer. Para me trazer até aqui.

Depois de dois anos de luta contra uma doença que me tirou a alegria de viver, renasci. Sim, esse é, literalmente, o termo. A Sílvia alegre e apaixonada pela vida voltou. Mais descontraída, mais viva. Estive sempre disponível para os meus irmãos que, neste momento da minha vida, foram tudo. Bem como muitos dos amigos que trago no coração hoje. Passei muitas fases na longa recuperação, mas passava por tudo de novo se soubesse que ia estar aqui, hoje, rodeada de quem mais gosto, e de quem me faz feliz. Sou uma pessoa abençoada por Deus, se me permitem a referência. Tenho dois pais que me amam e que se amam, dois irmãos que fariam tudo por mim como eu faço por eles. Uma família como poucas, diria eu, apesar das distâncias. Contra ventos e marés, o nosso amor vence tudo. Em cada momento mais assumido e mais presente. E tenho os melhores amigos.

Hoje, sou uma pessoa realizada. Trabalho em publicidade, uma área de que gosto,apesar de não estar a desempenhar funções para as quais estudei. Estudo, coisa que, como muitos sabem, adoro fazer. Mais. Estudo História, uma paixão. Até onde me vai levar, não sei. Ao contrário da primeira viagem, esta marinheira não se preocupa muito com o próximo porto de paragem. A viagem apresenta infinitas possibilidades para me preocupar com a hora de chegada. Gostava de vir a dar aulas. Pela importância que a educação tem na formação das crianças. Pela possibilidade de fazer crianças felizes. Mas de momento, vibro com cada coisa que aprendo. Quase me torno chata ao falar disso. Quase...

E pronto. A minha história dos últimos 30 anos, está aqui contada, em traços gerais.Sou isto que aqui leêm. Orgulhosa, fria, dura, sofrida, por vezes cruel. Mas também amiga, dedicada, sensível, romântica, meiga. Muitas vezes frágil. Nunca arrependida. Sobretudo, apaixonada. Das mais diversas formas. Pela vida. Por vocês. Por ti.Venham mais 30!!!
12/05/2008
Porque precisei de o reler para me lembrar que sou uma privilegiada...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Espelho Meu

Olho-te no espelho e não te reconheço. Quem és tu? O que queres de mim? Porque me dizes o que devo ou não fazer, como devo ou não estar? Quero ficar aqui, quieta, esquecida… Baixar os braços, encolher-me neste cantinho e deixar-me ficar afastada de qualquer exigência.

Não me peças para empurrar mais um metro… Não me digas que esperavas mais de mim… Não me obrigues a continuar de cabeça erguida e ignorar aquilo que aqui vai dentro… Nâo vês que já não consigo? Não vês que não quero conseguir? O que queria mesmo era que me dissesses que já não preciso continuar a ser forte… Queria que me sorrisses com aquele sorriso doce que tens e me dissesses que já não estou sozinha. Aí sim, tenho a certeza que o meu respirar seria mais leve e a energia voltaria a jorrar pelo meu sangue. Tudo porque o que fizesse daí para a frente seria partilhado. Tudo porque tudo passaria a fazer sentido num universo criado para o nós, não para o eu.

Mas tu não sorris. Tens esse rosto fechado, tenso, endurecido. Esse olhar implacável e determinado a levantar-me, a empurrar-me, a obrigar-me a reagir. És cruel! Não te cansas de me ignorar? Não te cansas de nunca desistir? Não te cansas de me fazer seguir por onde achas que devo ir, mesmo que não o queira fazer sozinha? Eu sei que se estou viva, é a ti que o devo. Eu sei que se sou forte, foste tu que me fizeste forte. Eu sei que metade do que tenho e do que sou, to devo a ti. E agradeço-te por isso. Mas não te esqueças que não estás sozinha aqui. Se estás aí, nesse lado do espelho, é porque eu estou aqui, deste lado.

Anda. Solta essa lágrima que teimas em prender… Tira essa máscara que teimar em usar… Só um bocadinho… E deixa-nos voltar a ser só um “eu” por um momento. Prometo que depois volto a empurrar contigo…

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Preciso de ti...

Ultimamente, acordo de manhã com uma mesma sensação: mais um dia sem te ter, mais um dia em que sou só eu. Levanto-me, arranjo-me, enfrento o que me esperam as horas do dia... mas à noite... quando volto para casa... ela está lá outra vez: a saudade. Saudade da conquista, da partilha, da cumplicidade. De trocar sorrisos contigo. De trocar olhares contigo. De querer-te e ver-me querida nos teus olhos. De desejar-te e ser desejada. Do teu corpo no meu corpo, sem sabermos onde começa um e acaba o outro. Do depois. De todo um depois que preenche a alma e me faz sentir que estou onde devo estar, como devo estar, com quem devo estar: contigo.
Estou cansada de esperar. Cansada da saudade do que havemos de ser, do que me farás sentir... Cansada de fazer de conta que estou bem. Não estou! Sim, faço o que gosto. Sim, vivo como quero. Sim, tenho a liberdade que sempre procurei. Mas preciso de mais! Preciso de tudo o que podemos ser juntos. De um futuro que o futuro promete há tanto tempo!Preciso de ti... Para deixar de ser só eu... Para passarmos a ser nós...
16/10/2008

domingo, 26 de outubro de 2008

Delírio

Um toque...
Gentil, primeiro, torna-se ousado e insinuante à medida que percorre as curvas que lhe prometem emoções fortes e vibrantes...
Um beijo...
Inseguro, primeiro, torna-se exigente e provocador à medida que a resistência se transforma em convite, explorando os segredos que guardam os lábios sedentos de atenção.
E tocas-me. E beijas-me. E eu deixo-me ir nas promessas do teu corpo como tu fazes com o meu.
Uma paixão...
Dois corpos que se exploram e se conhecem, se envolvem e se dão na suave e intensa luta do prazer. Misturam-se suores, respirações, multiplicam-se afagos, desejos... O mundo passa a ser só aquela dança sofrega e exigente.
Uma posse...
Não existe o tu, o eu, as diferenças, as semelhanças. Existe a necessidade de possuir e ser possuido, de dar e receber, de saciar um instinto quase tão animalesco como libertador.
E invades-me. E possuis-me. E eu recebo-te sedenta de domínio, de entrega, de liberdade... Não te conheço. E, no entanto, vi-te na tua forma mais real. Tudo tão natural...
Delírio meu?
23/10/2008