quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Muro

É uma sensação estranha. Como que acordarmos do lado de cá de um muro alto, sem porta, sem retorno, indestrutível, sabendo que nunca mais voltaremos ao lado de lá. E tu ficaste no lado de lá. E eu não sei o que fazer com isso. Sei o que se quebrou. Sei o que morreu. Sei o que me adormeceu. Sei que a sensação de perda ao acordar é imensa, misturada com a frustração de agora te saber irreal. O tu que eu admirava, pelo menos. Deixaste morrer a magia de uma forma tão cruel que me pergunto se a vias como eu. Sei que a vias, porque o teu egoísmo levou-te a fechá-la numa redoma, intocável, imutável, sem lhe dar capacidade de crescer, de se transformar. O teu medo de a perder atrofiou-a. E, atrofiada, morreu. Mas não a vias como eu. Mataste-nos. O que tanto querias preservar, morreu nas tuas mãos, a definhar de fome. De um alimento que lhe recusaste. E eu... acordei de um sonho. Lindo. Único. Acabado.
Não sei como vai ser agora. Só sei que ficou o vazio. Do lado de cá do muro.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Fazes-me falta...

Fazes-me falta...
Como a areia precisa da espuma do mar, fazes-me falta. Como a terra precisa da chuva para germinar, fazes-me falta. Sou metade sem ti. Um projecto cheio de excelentes potencialidades mas que precisa das mãos certas para o desenvolver. Preciso do teu toque, do teu estímulo, do teu poder. Preciso de ser pequena contigo. Preciso que me olhes e me dispas, uma a uma, todas as peças virtuais e reais que me protegem o corpo e a alma. E me vejas como nunca ninguém me viu, como só posso ser contigo. Essa mulher só existe para ti.
Onde andas? Fazes-me falta...
(22 Ago. 2008)

Estou à tua espera...

Estou à tua espera.
Posso viver cada dia intensamente, posso ter uma agenda social preenchida, posso até ser a mais alegre das criaturas. Mas estou à tua espera. Pareço livre, dona da minha vida, da minha vontade, de mim, mas não o sou. Estou à tua espera.
Não que não me divirta, que não ria, que não viva. Faço-o porque adoro viver. Faço-o porque gosto de mim e de pessoas. Faço-o porque quero chegar ao fim e ver um filme intenso e preenchido diante dos meus olhos. Mas guardo sempre o teu espaço. Está aqui, à espera que chegues e reclames o que sempre foi teu. À espera que me inundes e me dês uma outra vida. Aquela que só começa quando chegares. Passam dias, semanas, meses, e eu sigo, a pincelar de cores vivas o quadro que me foi dado a pintar. Mas falta-me uma cor. A tua.Não estou completa.
Estou à tua espera...
(25 Ago. 2008)

Se me visses agora...

Se me visses agora, saberias que sou tua. Estou fraca, sensível, vulnerável... Não conseguiria esconder que és meu dono, meu pai, meu filho, meu amante, meu amor... Meu senhor. Não conseguiria esconder que, por trás da mulher que se bate por ser livre, está uma outra ansiosa por se entregar, por se prender. Porque aceitar-te me traria uma liberdade maior: de gritar que te pertenço, que só faço sentido em ti e contigo.

Se me visses agora, saberias que sou tua. Porque não estou a conseguir proteger-me do teu efeito, porque não estou a conseguir esconder-me dentro de mim. Toda eu estou na tua orbita, despida do que construí para te afastar de mim.


Se me visses agora, saberias que sou tua... Mas não vês. Não estás. Não conheces este meu eu que nem eu conheço e que me assalta e me domina quando menos preciso. Quando menos quero precisar. Não vês e não estás e eu fico aqui, à espera, a imaginar como seria se visses...

(10 Set. 2008)