terça-feira, 21 de abril de 2009

Carta aberta ao meu pai

Olá, pai.
Estou triste. Queria aquele colinho que só tu me sabes dar e não tenho. Queria chorar estas lágrimas no teu ombro e vejo-as cair, desamparadas, no meu colo vazio. Queria voltar aos tempos de inocência, em que o príncipe encantado ainda era uma possibilidade e as desilusões amorosas demoravam um dia a superar, e não posso voltar a ser essa tua menina. Onde anda o meu amor igual ao teu? Onde está o homem que te fará ceder-me a custo? Estou carente! Preciso de amor! E até o teu está tão longe agora...

Não sei se te culpe por ser tão exigente... Talvez se não me tivesses dado tanto, tudo se tornasse mais simples. Eu não saberia o que seria essa ligação especial que tem pouco deste mundo, que nos completa e nos obriga a assumir que somos um outro um no outro. Talvez se não me tivesses mostrado a quinta dimensão do amor eu não perseguisse uma quimera. Estou tão cansada desta procura pai! Dos enganos e desenganos, dos falsos príncipes e dos falsos sapos! Quero paz! Quero abrigo! Quero pousar a cabeça e chorar o que perdi, o que não tive, o que não vivi. Quero a esperança do teu colo, a força do teu abraço, o sentido que a vida faz quando estou contigo e me dizes sem dizer que o caminho ainda esconde muitas promessas. És um guerreiro e um optimista. Sei que só me deixarias chorar o tempo suficiente para exorcizar dores. E depois... Empurravas-me de novo para a estrada. Não me deixes desistir! Não me deixes fraquejar! Não me deixes perder esta capacidade de te trazer para mim quando preciso de parar e respirar fundo. Sobretudo, não me deixes! Nunca! Não sei o que faria sem ti...

(23 Março 2009)