sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ossos

“Nasce o dia. Agora o mar flutua sobre a terra, pois adquiri, de larva para borboleta, de borboleta para crisálida, de crisálida para homem, o poder de colocar o mar onde ele não existe. E o mar, no oceano, não existe nunca.

Olho para ti e vejo o mar que me faltava. E se os meus olhos se alagam, já não é medo nem sequer receio, é apenas por amar o mar. Em ti nado, em ti penetro sem te tocar, de ti saio escorrendo ternura como se fosse esse o esperma da alma. E nada me consegue secar o coração, porque nele plantámos o poder de molhar até ao infinito.

Mas não. Tu falas de andar a regar a planta, e isso só é fértil com água de dois. E eu sequei por falta de ti. Secaram-me as asas, caíram-me alguns membros, o terceiro ventrículo murchou. Estou humano, carente, triste, só.

Vejo asas onde eu quero, mas pouco quero voar. Vejo gente que dorme, mas pouco sono me dá.

A ti, dou-te tudo. Depois fico exausto, porque tudo é muito.

Mas por mais que tente dosear o amor, menos que tudo a nada me sabe, mulher. É uma questão de tempero.

Então, aqui me entrego. Estou quase morto, quase vivo.
Que quem quiser, escolha.”

Manuel Cintra, Abril de 2006

Porque o amor vivido no masculino sempre me fascinou...

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