quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Preciso chorar...

Ela está aqui. Não sei bem onde se esconde, o que a prende, mas está aqui. Aperta-me o coração e deixa-me como que sufocada. Não quer sair. Ou então, ainda não encontrou o caminho. Mas enquanto ela não sair, não fico bem. Ela exterioriza o que sinto e eu preciso que o que sinto se manifeste, se revele, que exploda. Que saia de alguma forma. Só assim me sentirei aliviada e poderei respirar fundo. Só assim poderei erguer a cabeça e seguir em frente. É como que lamber as feridas. É lavar a alma. E quando ela sai, há algo que se liberta e que escorre junto com ela, à medida que desliza em mim. Dor. Desilusão. Tristeza. E a certeza terrível de que, mais uma vez, não me souberam ler. Às vezes, acho que nem os mais próximos me vêem. Sem querer, construiram uma imagem de mim que, com o tempo, se desfocou.
Não sou tão fria quanto me percebem. Não sou tão dura ou tão forte. Não fico sempre bem com os tombos e tropeços. Só não manifesto tudo o que sinto. Só me defendo. Como poucos o conseguem fazer, reconheço. Sou muito protectora comigo mesma. Mas isso não quer dizer que não me encolha com os murros no estômago. Só quer dizer que sofro a dor escondida. Também reconheço que barricar-me cá dentro, impede que me vejam no todo. Mas eu fico sempre com a esperança vã de que me saibam perceber para lá do muro. Porque, se me olharem com olhos de ver, perceberão o que escondo. Dói da mesma forma. Ou ainda pior. E libertar uma lágrima é o único alívio que tenho. Ela sabe de tudo. Ela espelha tudo. Ela lava tudo.
Por isso, sai. Desce daí. Leva a minha fragilidade, a minha fraqueza, a minha mágoa. Leva e mostra ao mundo quem sou, como sofro, o que me fere. Mostra-me humana, afinal.
Deixa-te cair. Por favor! Eu preciso chorar...

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Devaneio

Escreve...
Voa com as palavras e deixa a confusão, as dúvidas, as pedras do caminho.
Sonha...
Entra numa outra realidade e esquece a fealdade, a insegurança, a pequenez desta outra, das ruas, das pessoas.
Eleva-te ao que de mais alto e profundo e belo existe: os sentimentos e os seus pequenos e grandes e sinuosos meandros. Nesse mundo de inúmeras possibilidades, podes ser o agressor ou a vítima, o caçador ou a caça, o herói ou o vilão. Podes ser o que quiseres com quem quiseres. Só não esqueças que viver, nesse mundo, não se pode. É o único verbo que não se consegue conjugar. E, por isso, é no aqui, no chão, no descolorido real que te rodeia que terás que ver e que encontrar o que te fará feliz. É o maior desafio: descobrir as cores desbotadas que uma vez já viste com a mais intensa luminosidade...

terça-feira, 21 de abril de 2009

Carta aberta ao meu pai

Olá, pai.
Estou triste. Queria aquele colinho que só tu me sabes dar e não tenho. Queria chorar estas lágrimas no teu ombro e vejo-as cair, desamparadas, no meu colo vazio. Queria voltar aos tempos de inocência, em que o príncipe encantado ainda era uma possibilidade e as desilusões amorosas demoravam um dia a superar, e não posso voltar a ser essa tua menina. Onde anda o meu amor igual ao teu? Onde está o homem que te fará ceder-me a custo? Estou carente! Preciso de amor! E até o teu está tão longe agora...

Não sei se te culpe por ser tão exigente... Talvez se não me tivesses dado tanto, tudo se tornasse mais simples. Eu não saberia o que seria essa ligação especial que tem pouco deste mundo, que nos completa e nos obriga a assumir que somos um outro um no outro. Talvez se não me tivesses mostrado a quinta dimensão do amor eu não perseguisse uma quimera. Estou tão cansada desta procura pai! Dos enganos e desenganos, dos falsos príncipes e dos falsos sapos! Quero paz! Quero abrigo! Quero pousar a cabeça e chorar o que perdi, o que não tive, o que não vivi. Quero a esperança do teu colo, a força do teu abraço, o sentido que a vida faz quando estou contigo e me dizes sem dizer que o caminho ainda esconde muitas promessas. És um guerreiro e um optimista. Sei que só me deixarias chorar o tempo suficiente para exorcizar dores. E depois... Empurravas-me de novo para a estrada. Não me deixes desistir! Não me deixes fraquejar! Não me deixes perder esta capacidade de te trazer para mim quando preciso de parar e respirar fundo. Sobretudo, não me deixes! Nunca! Não sei o que faria sem ti...

(23 Março 2009)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Afasta-te de mim...

Afasta-te de mim...
Deixa de me consumir energia, deixa de me desequilibrar, pára!
Não quero mais esse redemoinho de emoções, sensações e pessoas. Não quero os altos e os baixos, não quero as histórias e as loucuras ocas. Estou cansada. Estou tão cansada! Quero paz! Quero equilíbrio! Quero tranquilidade! Quero voltar a ter os pés no chão e a controlar o que penso, o que faço, o que sinto. Quero respirar fundo por prazer e não para obter algum alívio...
Afasta-te de mim...
Deixa de pôr a minha vida do avesso, deixa de me tirar o sentido, deixa-me!
Já não quero as brincadeiras e os jogos, não quero fazer parte da equipa, não quero este camarote. És um vício que me está a sair demasiado caro. Não posso pôr em causa a minha estabilidade. Não posso! É a única coisa que tenho ao fim do dia... Já que não te posso ter a ti.
Afasta-te de mim...
Por favor...
Porque eu não consigo deixar-te...
18.03.2009

sexta-feira, 6 de março de 2009

Põe-me um sorriso nos lábios...

Tenho vários tipos de sorriso. Todos nós temos. Tenho sorrisos meigos, provocadores, felizes, forçados, conforme a situação e o receptor do sorriso. E depois tenho o teu sorriso. Aquele que é só para ti e que só tu sabes conquistar. Meio doce, mas com um travo de pimenta. Meio inocente, mas com uma ponta de culpa. Franco, mas misterioso.Sobretudo cúmplice. Sobretudo único. Sobretudo teu.
Este sorriso é voluntarioso e incontrolável. Submete o meu rosto à sua vontade, sempre que lhe apetece dar um ar da sua graça. Força estes lábios teus a mostrarem que estás aqui, comigo, o teu rosto, a tua voz, o teu poder. Não sei como conseguiste mas apoderaste-te deste meu sorriso. Ele mora em mim mas é a ti que obedece, é a ti que reage, só a ti.
Isto não seria grave, se não me tivesse viciado neste sorriso. Sempre tive uma queda para a rebeldia, confesso, e este sorriso é rebelde! E domina-me. E revela-me. Mas diz-te tudo o que não consigo dizer em palavras. É dominado por ti, mas é a minha essência que espelha. Esta essência, esta mulher que só se assume neste sorriso para ti e contigo. E sou doce e apimentada. Inocente e culpada. Franca e misteriosa.
Tenho saudades desta mulher. Por isso, peço-te, põe-me um sorriso nos lábios...

quarta-feira, 4 de março de 2009

Regresso ao passado

Sinto uma angústia dentro de mim. Uma insatisfação. Parece-te que chega, mas não chega. Parece-te que está tudo bem, mas não está tudo bem. Também pensei que estivesse. Também pensei que chegasse. Pensei que já te tinha posto na prateleira dos assuntos arrumados e com final feliz. Mentira... Sempre soube que não eras um assunto arrumado. Sempre soube que iria chegar o dia em que a realidade se me revelaria numa imagem clara e nítida. Só não sabia como, nem porquê. E, por isso, era mais fácil considerar-te resolvido. Colocar-te numa prateleira, arrumar-te numa gaveta. O meu sexto sentido, esse velho amigo, dizia-me que era cedo para e arrumar. Que não encaixavas ainda em nenhuma prateleira ou gaveta. Mas como me considero extremamente prática, não podia ter-te ali, em suspenso. Assuntos suspensos são assuntos não resolvidos e eu não me podia dar ao luxo de não te ter resolvido. Já me tinhas consumido energia demais, tempo demais, pensamentos demais, choro demais.
Estávamos bem. A nossa relação evoluiu rápida e vertiginosamente para um outro patamar, um outro nível tão, ou mais, mágico e francamente superior. E o passado já estava arrumado... Ou não. Nunca o arrumei, meu querido. Nunca consegui, percebo agora. A culpa foi deste meu sexto sentido. Se ele não me tivesse dito que havia um sentido oculto no sentido da nossa relação, se não me tivesse dito que a magia que nos acontece só pode estar ligada à nossa relação passada, já eras mais um arquivo no armário. Mas ele disse. E eu, como sempre, escutei. Não conseguia ver bem porquê, mas sabia que esta coisa bonita e muito nossa era pouco daquilo que gostaríamos que fosse: simples, aberta, segura. Porque existe toda uma outra dimensão que a complica. Ficou algo indefinido por resolver que chutámos para canto sem sabermos muito bem o que lhe fazer.
Pois bem, meu querido, o círculo falsamente fechado, voltou a abrir-se. Voltaste a entrar na área reservada de onde, agora sei, nunca saiste. Qual é o dano que isso nos vai fazer? Não sei. Qual é o lugar que vais ocupar agora? Também não sei. Talvez te estejas a mexer em direcção à saída e esse teu movimento me tenha baralhado. Talvez o fogo esteja a dar o último suspiro antes de se extinguir. Não sei. Não sei mesmo. Só sei que o passado regressou. E que há, ainda, uma parte de ti onde quero chegar...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Tenho um segredo

Tenho um segredo.
Aqui dentro, bem guardado. Um segredo só meu.
E este segredo enche-me os dias e a alma de sorrisos involuntários e olhares perdidos. Este segredo faz-me rir e chorar com a mesma intensidade de um raio de sol no seu pico mais alto, em pleno Verão. Faz-me sentir. Faz-me partilhar. Faz-me participar num mundo cheio de cumplicidades e entendimentos, de complementaridades e afectos. Sinto-me inteira, completa. Um estranho sentimento de pertença e de familiaridade surpreendente. Como se tivesse nascido para me sentir assim, para estar assim... contigo. Como se estivessemos a cumprir a vontade do universo e, por isso, a sensação de que tudo está como deve estar, como era suposto estar, como o mundo conspirou para estar.
Tenho um segredo. E uma missão. Um plano que tenho de cumprir e que dá razão ao meu segredo. Não sei qual é o plano. Não sei qual é a missão. Mas o segredo...
Tu...
Tu és o meu segredo.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Procuro-te

Onde estás?
Vejo o tempo escapar-se por entre os dedos. Tempo vazio, tempo sem ti. Não é sempre. Mas quando páro e abro as mãos à minha frente, vejo o tempo a fugir sem me mostrar onde estás. Se ao menos ele me dissesse que a seu tempo te mostraria... Não estaria tão ansiosa por saber onde estás. É a incerteza que me vai corroendo. A incerteza de não saber se te vou ver, se te vou encontrar.
Procuro-te. Não é do conhecimento geral, mas também não é segredo. Não estou desesperada mas também não tenho todo o tempo do mundo. Não que ache que poderá chegar o momento em que será tarde demais. Não. As coisas acontecem quando têm de acontecer. Nem antes nem depois. Mas quero aquilo que podes ser para mim e em mim. Conheço-te. Sei como és e o que fazes. E isso faz-me desejar encontrar-te finalmente. Pendurar as luvas, deixar os jogos e as disputas de duplos, intensos, mas efémeros sentidos, e ficar em paz contigo. E ter aquela sensação de pertença que nos dá outro sentido, que nos mostra toda uma outra dimensão.
Sim, sei jogar. Sei brincar com as palavras e com os sentimentos. Aprendi muito sobre o ser humano assim. Sobre homens e mulheres. Mas tu sempre foste o objectivo. O meu objectivo. Porque percebi que no meio do jogo das insinuações e das verdades não ditas, no meio do faz de conta que pode, ou não, ser de conta, por trás das mentiras explícitas e implícitas e das verdades camufladas em mentiras, todos procuramos o mesmo: o teu arrebatamento, o teu sentido. O jogo é temporário. Apenas preenche o espaço vazio guardado para ti. Mas esfuma-se porque não és tu. E este espaço é feito à tua medida.
Onde estás tu?
Procuro-te...
Procuro-te e não te encontro.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Tenho saudades

Vieste de mansinho... Deste-me uma conversa alegre, solta, desprendida. Fizeste-me rir. Devagar, fizeste-me dar. Nem sempre valorizaste o que te dava, o que te dizia. Ou eu pensava assim. E isso fazia-me içar os espinhos. E tu percebias. E brincavas. Percebi que não fazias por mal. Era a tua maneira de ser. Brincar. Mesmo a falar de coisas sérias. Brincavas para manter o bom humor. Por baixo do tom despreocupado, bem escondido, estava um homem bonito, atento, carinhoso. Também tinhas os teus espinhos. Mas esses, escondeste atrás da brincadeira, da descontracção.
Comecei a perceber-te tarde demais. Agora... Tenho saudades das nossas conversas parvas. De te escrever e rir só de pensar em qual seria a tua resposta. Nunca era a que eu estava à espera. Pegavas onde eu pensava que ias pegar, mas fazia-lo de forma completamente diferente. Esperava acutilância e deste-me humor. Esperava um jogo, tu deste-me outro. Também de duplos sentidos e significados. Mas muito menos agressivo do que estava habituada. Pensei-te fraco. Enganei-me. Era, simplesmente, um jogo diferente. Também alegre, solto, desprendido. Menos tenso mas mais promissor. Eu não sabia fazer esse jogo. Habituada ao mata ou morre, ao ter que ganhar no matter what, ao ferir para não ser ferida, esqueci-me que um jogo pode não ser uma guerra. Perdi. E agora...
Tenho saudades. Dos comentários, das mensagens, das conversas. Da brincadeira e do jogo pelo jogo. Da Brasileira, onde nunca chegámos a estar juntos, e do Pessoa, que nunca nos viu por lá. De rir. E sabes que rir, para mim, é precioso...
Tenho saudades.