quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Muro

É uma sensação estranha. Como que acordarmos do lado de cá de um muro alto, sem porta, sem retorno, indestrutível, sabendo que nunca mais voltaremos ao lado de lá. E tu ficaste no lado de lá. E eu não sei o que fazer com isso. Sei o que se quebrou. Sei o que morreu. Sei o que me adormeceu. Sei que a sensação de perda ao acordar é imensa, misturada com a frustração de agora te saber irreal. O tu que eu admirava, pelo menos. Deixaste morrer a magia de uma forma tão cruel que me pergunto se a vias como eu. Sei que a vias, porque o teu egoísmo levou-te a fechá-la numa redoma, intocável, imutável, sem lhe dar capacidade de crescer, de se transformar. O teu medo de a perder atrofiou-a. E, atrofiada, morreu. Mas não a vias como eu. Mataste-nos. O que tanto querias preservar, morreu nas tuas mãos, a definhar de fome. De um alimento que lhe recusaste. E eu... acordei de um sonho. Lindo. Único. Acabado.
Não sei como vai ser agora. Só sei que ficou o vazio. Do lado de cá do muro.

1 comentário:

Joaninha disse...

Ha muito tempo que não vinha aqui... li, gostei e até me identifiquei aí no meio das tuas frases!
Fabuloso!